terça-feira, 19 de outubro de 2010

Contando o passado. Pt.1


Acho porém, que antes dessa narração cabe contar-te como aconteceu tudo em meu coração antes de te conhecer profundamente, ou melhor, antes de me inebriar de ti . Sabendo pelo que já passei, poderá ser segura do que realmente senti, e acreditar mais em minhas palavras.
Tendo em vista que quero lhe contar aquilo que edificou meu modo de sentir, pularei as paixonites infantis, das quais sequer me lembro, delas nada restou.
 Comecemos logo.
A primeira das paixões que houve em mim, assim como a primeira paixão que ocorre em todos, creio eu, foi à primeira vista.
-Como você se chama?
- Camila.
Esta longa conversa se deu numa das excursões que fiz com a minha escola. Quando já na volta da cidade grande. Eu tinha meus 15 anos e ela não menos. Nunca a tinha reparado dentro do prédio em que estudávamos, talvez por me ocupar muito dos esportes, talvez pelo burburinho que cerca alguns a cada sinal de sossego (humildemente, sempre fui um desses), mas, mais provavelmente, não a reparei por não olhar. Muitas coisas sempre estiveram ao nosso lado, mas nunca olhamos para o lado, sempre à frente, sempre à frente... Assim perdemos maravilhas, e ganhamos muito pouco em troca. Enfim, ela eu tive a felicidade de notar.
Voltando à minha ‘primeira vista’. Saiba que a conversa se acabou na primeira resposta, pois o ônibus parou, os professores chamaram e a torrente se descarregou para fora. Mas a semente estava lançada e crescia em meu coração.
Camila nada tinha de alta, assim como nada tinha de imperfeito àquele tempo. Tinha as mais belas maçãs do rosto que já vira eu e junto ao liso loiro de seus cabelos por sobre os ombros deitados carregava um olhar aconchegante e um quê de veludo na voz.
Comecei a me aproximar. Quando a via lendo, eu logo me encostava e perguntava sobre qualquer que fosse o livro, e cabe aqui ressaltar que seu gosto era interessantíssimo, lia Clarice e Paulo Coelho, um a cada semana. O tempo me mostrou porque ela tanto se interessava pelo segundo, mas chegaremos lá. Sim, tinha talvez, as mais belas e suaves feições que pode caber a uma mulher, e confesso que talvez isso me tenha cegado para o resto.
Muito passou, muito conversei, muito ela leu. Um dia enfim, decidiu-se em aceitar meu convite, que já lhe fazia há alguns meses, para sairmos juntos. Encontrei-a de tarde num dos compromissos que a escola nos obrigava, ela foi receptiva como nunca, tomei isso como um sinal. O sinal só fez confundir minha inexperiente auto-confiança. A demorada noite chegou, encontrei-me com 2 amigos e fui à casa dela para lhe buscar, iríamos todos juntos a um bar freqüentado por gente da nossa idade, e em cidades pequenas, esses bares, de raridade que são, se fazem muito freqüentados.
Recorda-me perfeitamente o dobrar daquela esquina na Rua Pimentel, avistei-a de longe, senti-a um imã.
-Como está frio aqui.
-Exatamente por isso que vim.
Depois de sentir orgulho do que tinha falado, me apressei a abraçá-la, no frio não se pode confiar muito.  Caminhamos juntos, deixamos todos irem bem à frente. De mãos dadas, o silêncio falava por nós, por mim ao menos, falava. Passávamos em frente ao teatro quando de súbito ela parou, nossos amigos a esquina dobraram, já chegavam ao bar; nós, parados, olhando-nos. Ela com seus olhos erguidos a fim de encontrar os meus receosos da próxima atitude que viria, me abraçou, mas não aproximou o corpo. Foi então que vi pela primeira vez o que faz uma mulher quando quer dizer sem usar palavras. Aqueles olhos me falaram mais do que qualquer coisa que pudesse sair da sua boca. Sei que fui eu que me mexi a beijá-la, assim como sei que era ela que me controlava. A dimensão da felicidade que senti não posso narrar, nunca se repetiu; não por ter sido o mais amoroso beijo, não por ter sido o melhor, mas sim por ter sido o primeiro, essa sensação só cabe a quem se recorda do seu próprio.
Enfim, tive a melhor das noites que poderia pedir àquele tempo. Tive um final de semana cheio de sonhos, e um final de terça-feira cheio de realidade. Ela não se interessava mais. Sequer me olhava. E foi então que descobri o que era sofrer de paixão. Impressionante a insegurança que um não olhar pode nos trazer.
Depois de cicatrizado, comecei a percebê-la fora da fantasia que lhe dera. Ela não tinha os olhos inocentes e aconchegantes, ela os fazia assim. Ela não cria no amor, ela corria sempre atrás de um novo. Percebi-me enganado. Suas redondas belas coxas me driblaram, o irrepreensível formato de seus braços me fez ninho sobre o fogo, enfim, perdi os pensamentos naquilo que via por fora, e só fui conhecer a parte de dentro quando olhava de longe o suficiente. Tão longe, que não me aproximaria mais, tão longe que me fez ver.
Quando muito tempo passado, já não tinha nenhuma admiração por essa garota. Óbvio, não negarei aqui a beleza daquele rosto que ensaiava sardas, se me dissessem pertencer a um anjo, não duvidaria. Mas voltando a não admiração, ela se tatuou, deu-se a homens mais velhos e com costumes estranhos, seguiu um caminho obscuro demais para que eu continuasse a olhá-la de longe. E assim acabou-se.
Hoje realmente a curiosidade me bate: como estará Camila?
Quem sabe o destino venha a me responder, mas visto que até já nada veio, continuemos. 

4 comentários:

  1. Estou perplexa com sua forma de escrever. Poucas vezes li um texto desenvolvido de maneira tão bem feita. Adorei suas comparações, são tipicamente românticas, e quando digo isso estou me referindo à escola literária.

    Espero que a continuação desta narrativa venha em breve.

    Abraços.

    http://www.acedencia.blogspot.com/

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  2. Acho q vc começou muito bem o blog com postagens bem interessantes!! parabéns e sucesso com os textos :)

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  3. Depois dê uma olhadinha no meu blog, deixei um selo pra você. Um beijo. ;*

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